04/02/2021
por Maria Isabel de Oliveira
Psicanalista
Sócia Fundadora da AkasA Formação & Conhecimento

No último blog da série sobre “Sono & Sonho – Psicologia dos Sonhos”, abordamos os primeiros postulados psicanalíticos sobre o sonhar e as considerações desse fenômeno no campo da neurobiologia. Teorias mais recentes enfatizam as funções adaptativas do sonhar e elas serão o foco desse blog.

O modelo proposto por Hartmann sugere que o propósito do sonhar é proporcionar ao sonhador uma oportunidade para lidar com a preocupação emocional dominante. Com base em suas observações sobre os sonhos dos pacientes após a exposição a um trauma, ele observou um processo ”auto-associativo” no sonho, no qual conexões são feitas de forma mais ampla e mais leves do que no pensamento direcionado da vigília, proporcionando ao sonhador a oportunidade de contextualizar a emoção dominante na forma de uma metáfora explicativa. Isso permite que o sonhador acalme e integre sua preocupação emocional dominante e aumente sua capacidade de adaptação futura a distúrbios emocionais semelhantes.

A perspectiva do sonho como função adaptativa que incorpora a resolução de problemas e afeta a regulação emocional, também já havia sido proposta por Kramer e Cartwright. Esses postulados estão de acordo com as visões psicanalíticas mais recentes que não limitam o sonho à função de guardião do sono.

Outras considerações recentes sobre o sonhar relacionam-se à pesquisa sobre o envolvimento do sono REM na aprendizagem. Na maioria das vezes, o tipo de aprendizado citado é a consolidação da memória processual, ou aprendizado emocional. Em pesquisas com ratos, foram relatados achados a partir de gravações de células unitárias no hipocampo indicando que as células ativas durante uma tarefa de aprendizagem em vigília são reativadas em um padrão semelhante durante o sono REM. Essas observações têm sido correlacionadas a um processo de consolidação da memória.

Maquet e colaboradores relatam achados análogos em humanos. A análise de imagens de tomografia revelou que as áreas do cérebro ativadas durante o treinamento de uma tarefa são as mesmas áreas mais ativadas durante a fase REM do sono subsequente ao treino. No contexto do paradigma de aprendizagem, Stickgold propõe que os ”sonhos representam uma ‘consciência’ de sistemas cerebrais complexos envolvidos no reprocessamento de emoções e memórias vivenciadas na vigília durante o sono”.

  1. Physiology and Psychology of Dreams – Alan S. Eiser, Ph.D, April 2005 Seminars in Neurology 25(1):97-105
  2. Hartmann E. Outline for a theory on the nature and functions of dreaming. Dreaming 1996;6:147–170
  3. Kramer M. The selective mood regulatory function of dreaming: an update and revision. In: Moffitt A, Kramer M, Hoffmann R, eds. The Functions of Dreaming. Albany, NY: State University of New York Press; 1993: 139–195
  4. Cartwright R, Luten A, Young M, et al. Role of REM sleep and dream affect in overnight mood regulation: a study of normal volunteers. Psychiatry Res 1998;81:1–8
  5. Maquet P, Laureys S, Peigneux P, et al. Experience- dependent changes in cerebral activation during human REM sleep. Nat Neurosci 2000;3:831–836
  6. Stickgold R, Hobson JA, Fosse R, et al. Sleep, learning, and dreams: off-line memory reprocessing. Science 2001;294: 1052–1057

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