por Bárbara Conway
Psicóloga do Sono
Membro da Rede AkasA
Você sabia que o tratamento “padrão ouro” para insônia crônica não inclui o uso de medicamentos?
É verdade que existem casos de insônia em que o tratamento farmacológico é fortemente recomendado, como por exemplo em casos de insônia aguda. Exemplo: um paciente que está no processo de luto pela perda de um ente querido e está com insônia há pouco mais de um mês. Neste caso, há poucos fatores perpetuadores da insônia e agir diretamente no sintoma pode ser extremamente eficaz.
O tratamento farmacológico é apoiado principalmente na prescrição de medicamentos hipnóticos que agem diretamente nos sintomas da insônia. Os fatores perpetuadores que mantém esses sintomas não são abordados nesse tipo de tratamento.
Caso a insônia se torne crônica, isto é, persista por pelo menos três vezes na semana por mais de três meses, o tratamento farmacológico já não é mais a recomendação. Nestes casos, o tratamento farmacológico é insuficiente pode levar a dependência e a tolerância dos medicamentos. Isso ocorre pois na insônia crônica os fatores perpetuadores já ganharam espaço suficiente e também precisam ser tratados. É nesse momento que a terapia cognitivo-comportamental para insônia (TCC-I) se torna o “padrão ouro” de tratamento.
Mas afinal, o que é a Terapia Cognitivo-Comportamental aplicada a insônia (TCC-I)?
A TCC-I é uma terapia breve e focada. Os protocolos variam de 6 a 12 sessões que ocorrem em frequência semanal e podem ser aplicadas por diversos profissionais da área da saúde, no entanto, a aplicação da TCC-I por um psicólogo do sono pode ser um diferencial. Esse profissional domina as técnicas terapêuticas envolvidas na TCC-I, compreende profundamente a fisiologia do sono e dispõe de abordagens psicoterápicas que podem auxiliar no manejo de outros aspectos o psicológicos eventualmente envolvidos na gênese e manutenção do quadro de insônia. Assim, o psicólogo do sono pode adaptar as estratégias da TCC-I respeitando as especificidades e necessidades de cada paciente, orientando e instruindo a respeito das alterações necessárias para provocar uma resposta fisiológica e tirar a potência do estresse que se criou ao redor do sono.
O objetivo desse tratamento é interromper o ciclo vicioso da insônia crônica através da alteração do padrão de sono condicionado. Para isso, age a fim de desconstruir as crenças errôneas sobre o sono, revisar os comportamentos e hábitos inadequados e orientar o paciente a estabelecer uma agenda de sono regular montada de forma adequada ao seu cronotipo, necessidade de sono e atividades cotidianas.
A TCC-I tem quatro pilares:
- Intervenções psicoterápicas derivadas da psicologia comportamental para intervir no padrão de sono
- Intervenções psicoterápicas derivadas psicologia cognitiva para intervir nas crenças disfuncionais sobre o sono
- Estratégias educacionais sobre sono
- Técnicas de relaxamento
Caso os fatores precipitadores dessa insônia ainda estejam presentes, é importante que o psicólogo do sono aborde-os durante o processo. Assim, a abordagem da TCC-I aplicada por um psicólogo do sono permite identificar e tratar os mecanismos psicológicos, cognitivos e comportamentais pelos quais a insônia se manifesta e/ou se mantém.
A eficácia da TCC-I é comprovada cientificamente para pacientes com ou sem comorbidades, jovens ou idosos e usando ou não medicamentos para tratar a insônia. Em relação aos desfechos, demonstrou eficácia na diminuição da latência para início do sono; aumento na eficiência do sono; diminuição do tempo acordado após o início do sono; melhora no Índice de Gravidade de Insônia (IGI) e no Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (PSQI) . Nos casos em que o paciente precisa fazer a retirada do medicamento de tratamento da insônia, a TCC-I tem papel fundamental.
- Van Straten A, van der Zweerde T, Kleiboer A, Cuijpers P, Morin CM, Lancee J. Cognitive and behavioral therapies in the treatment of insomnia: A meta-analysis. Sleep Med Rev. 2018 Apr;38:3-16. doi: 10.1016/j.smrv.2017.02.001. Epub 2017 Feb 9. PMID: 28392168.