17/09/2020
por Maria Isabel de Oliveira (Psicanalista e sócia-fundadora da AkasA)
e Maria Eduarda Costa (Psicóloga do Sono membro da Rede AkasA)
Amplamente utilizada na Ásia e cada vez mais nos países ocidentais, a acupuntura mostra-se como uma terapia que pode auxiliar o tratamento da insônia, com resultados benéficos em estudos clínicos randomizados e estudos experimentais sobre sua eficácia e segurança.
Os resultados desses estudos indicam que a acupuntura pode melhorar a qualidade do sono avaliada pelo índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (PSQI), além de demonstrar ser um procedimento seguro. A acupuntura como monoterapia mostrou menos efeitos colaterais do que os medicamentos ocidentais, e associada ao tratamento farmacológico mostrou diminuição dos escores totais do PSQI. Entretanto, a ideia de que a acupuntura melhora insônia por ativação colinérgica, estimulação dos neurônios opióides para maiores concentrações de b-endorfina é difícil de compreender ou mensurar cientificamente.
Se pesquisarmos no Google sobre música e sono, aparecerão diversas sugestões de músicas com propriedades indutoras do sono. Todos nós já ouvimos sobre as propriedades relaxantes da música, assim como sobre pessoas buscarem a música como ferramenta para melhorar a qualidade do sono. Mas, existe algum respaldo científico nessa relação entre música e qualidade do sono? Poderia ser a música usada para aliviar os problemas com o sono como um tratamento não farmacológico que ofereceria vantagens por ser fácil de administrar e seguro ?
A música vem sendo usada em tratamentos com pacientes que apresentam dor crônica, doenças psiquiátricas, em reabilitação neurológica, câncer e doenças cardíacas. Nos últimos 20 anos pesquisas vêm sendo desenvolvidas buscando mensurar o impacto da música no sono. Normalmente, envolvem uma seleção de músicas que induzem o início do sono e que podem ser usadas de forma passiva ou ativa (com instruções específicas de relaxamento).
Estudos já demonstraram que as músicas lentas induzem o relaxamento pela redução do nível de cortisol, atuando no ritmo cardíaco e na pressão arterial, assim como afeta vários parâmetros psicológicos como humor e atenção, refletindo na resposta do sistema nervoso central reduzindo a excitação simpática e, consequentemente, melhorando o sono. Na perspectiva psicológica, a música pode reduzir a ansiedade e o estresse levando a um maior relaxamento, o que melhoraria o sono. Um outro mecanismo possível seria o fato de levar o indivíduo a focar a atenção na música e, com isso, desfocar dos pensamentos estressantes, propiciando o sono.
Um estudo recente de meta-análise envolvendo 6 artigos científicos, com um total de 314 participantes com queixas de sono avaliados pelo PSQI, que escutaram uma seleção de música entre 25 a 60 minutos por dia durante um período de 3 dias até 35 dias, mostrou resultados favoráveis ao relaxamento. Após a intervenção, os participantes foram novamente avaliados pelo PSQI e apresentaram uma melhora significativa na qualidade do sono e na redução dos sintomas da insônia quando comparados ao grupo controle.
Outro dado interessante apresentado nessa pesquisa foi que tanto os participantes que montaram a sua própria seleção de música como os que receberam uma seleção preparada pelos pesquisadores tiveram o mesmo nível de resposta a intervenção. O mesmo no que tange ao fato de escutarem apenas as músicas ou músicas com instruções de relaxamento. Sendo assim, fica claro que a escolha das músicas ou as instruções de relaxamento não interferem no resultado da intervenção.
Ainda há mais a ser pesquisado, como aprofundar as análises objetivas, de maneira a avaliar os parâmetros referentes ao sono. Nesta meta-análise, apenas um estudo usou a polissonografia como referência, sendo que nesse estudo o período foi de apenas 3 noites, sendo assim, não podemos afirmar se o prazo da intervenção foi suficiente para repercutir no resultado, uma vez que os outros estudos ocorreram com prazos de 35 dias e usavam como métrica o PSQI, isto é, uma análise subjetiva do sono. Portanto, os participantes não foram selecionados conforme critérios diagnósticos clínico de insônia. Sendo assim, não há como identificar os problemas de sono, se era da natureza da insônia ou outro transtorno do sono, se seria insônia aguda ou crônica, se a dificuldade de sono era de iniciar ou manter o sono ou sono não restaurador ou uma combinação deles. Além de não ter como identificar outros distúrbios de sono, como apneia, síndrome das pernas inquietas, o estudo também não controlou para outros fatores que poderiam estar associados a precipitação e perpetuação das queixas de sono, como dor, trauma ou envelhecimento. Nesse contexto, também não se avaliou as consequências diurnas da privação de sono, tais como humor, fadiga, sonolência, ritmo cardíaco, pressão arterial, etc.
Nessa meta-análise se trabalhou com variados gêneros musicais (clássica chinesa e oriental, new age, ecléticas, populares e jazz), sempre músicas com poucas batidas, num ritmo constante e não acentuado, sendo assim, poderia se explorar se existe um gênero musical, assim como melhor horário ou duração da intervenção que ofereça potencialização do efeito.
Apesar de todas as limitações deste estudo no que tange a afirmar a música como tratamento de intervenção eficaz nos problemas de sono, pode-se afirmar que esta desponta como um possível coadjuvante no processo de relaxamento de pacientes que sofrem com dificuldades para o adormecer.
- Jespersen KV, Koenig J, Jennum P, Vuust P. Music for Insomnia in adults (Review). Cochrane Database of Systematic Reviews, 2015 (9)
- Hui-Juan, Mei-Li Yu, Li-Qiong Wang, Yu-Tong Fei, Hao Xu, Jian-Ping Liu (2019) Acupunture for Primary Insomnia: An Updated Systematic Review of Randomized Controlled Trials. The Journal of Alternative and Complementary Medicine.