por Maria Isabel de Oliveira
Psicanalista
Sócia Fundadora da AkasA Formação & Conhecimento
No início da quarentena imposta pelo Covid-19 o programa de Aprimoramento AkasA trouxe o tema Atendimento Online para estudo, fazia todo sentido, estávamos sendo levados a essa migração sem tempo ou oportunidade de reflexão.
A experiência pessoal de cada um dos membros da Rede AkasA tinha valor, mas ainda ficava com uma marca muito pessoal. Eu particularmente, já fazia alguns atendimentos online no âmbito da psicanálise. Desde 2014 vinha atendendo por telefone e depois online, pacientes que iniciaram a terapia presencial mas que acabaram tendo que se mudar de cidade ou de país e usamos dessas modalidades para darmos continuidade ao tratamento. Em 2016, aceitei o desafio e acolhi em análise uma paciente que não conhecia, mas foi indicada e morava na Austrália, depois veio um outro paciente que morava no México. Apesar de uma certa familiaridade com o atendimento online, posso garantir que eram casos eventuais e não podia caracterizá-los como uma clínica online.
Essas experiências me faziam crer que não havia prejuízo no tratamento, a transferência se instalava como no atendimento presencial, o que vivia no setting se reproduzia no atendimento online. Mas com as medidas sanitárias de isolamento toda a clínica deveria migrar para essa modalidade e, inclusive, o atendimento dos pacientes com distúrbio de sono, baseados na TCC-I.
Quando da criação da Rede AkasA, no final de 2019, tínhamos o atendimento online como uma das alternativas, em especial, pelo fato que são poucos os psicólogos habilitados e certificados para o tratamento de distúrbios de sono, inclusive em São Paulo, e muitos de nossos membros localizavam-se fora da cidade de São Paulo. Os pacientes que nos procuravam ou nos eram indicados, passavam por uma triagem e quando propúnhamos o atendimento online ficavam desconfortáveis, preferiam a modalidade presencial, e com isso, continuávamos limitados e sem capacidade de atendimento.
Ao consultar as publicações científicas nesse tema, nos deparamos com dois artigos publicados recentemente por Buenaver e col. (2019)1 e por Seyffert e col. (2016)2 e que validavam o que vínhamos percebendo. Esses artigos comprovam a eficácia dos atendimentos online e ressaltam a importância de educar o público nessa modalidade de maneira a expandir o acesso a terapia, pois não há como atender todos em sofrimento apenas no formato presencial. Os autores pontuam a escassez de profissionais habilitados para o atendimento e a dificuldade de acesso a esses profissionais pelos pacientes.
Nesse contexto, o momento atual, auxilia tanto terapeutas como pacientes a romper as barreiras e preconceitos que permeavam o imaginário e reduziam a possibilidade de experimentar o atendimento online. A cada dia temos mais evidencias clínicas do mal que o isolamento vem provocando em algumas pessoas, gerando muito sofrimento, ansiedade e dificuldades com o sono e os convidamos a experimentar o que nós, terapeutas da AkasA, podemos oferecer para que juntos possamos ultrapassar esse período de quarentena.
- Delivering Cognitive Behavioral Therapy for Insomnia in the Real World Considerations and Controversies – Luis F. Buenaver, PhD , Donald Townsend, PhD, Jason C. Ong, PhD ( Med Clin. 2019 Jun:14(2):275-281. Doi: 10.1016/j.jsmc.2019.01.008
- Internet-Delivered Cognitive Behavioral Therapy to Treat Insomnia: A Systematic Review and Meta-Analysis – Michael Seyffert1,2,3, Pooja Lagisetty2,3, Jessica Landgraf3, Vineet Chopra2,4, Paul N. Pfeiffer1,4, Marisa L. Conte5, Mary A. M. Rogers2. (PLoS One. 2016 Feb 11: 11(2):e0149139 doi: 10.1371/journal.pone.0149139.eCollection 2016).